quinta-feira, 19 de julho de 2012
Transformação
quinta-feira, 12 de julho de 2012
domingo, 8 de julho de 2012
Sequestros
"Dos relacionamentos que você já teve, quais foram às ocasiões em que verdadeiramente você foi modificado para melhor? Será que você é lembrança doída na vida de alguém? Será que já construiu cativeiros? Ou será que já viveu em algum"? Estas frases estão na orelha do livro Quem me Roubou de Mim, do Padre Fábio de Melo. É o segundo livro dele que leio e gosto. Por que eu comprei esse livro? Encantei-me pelo trechinho a seguir: "não é mais um livro de teoria da vida, mas é a vida de uma teoria. Ele não nasceu do aprendizado acadêmico. Nasceu dos olhos que um dia me olharam e pediram ajuda. Gente que precisava sair dos cativeiros dos afetos, das dependências viciosas, das autoridades arbitrárias e das violências veladas. Não, essa gente não trazia correntes nos pés, nem nas mãos. As correntes estavam na alma, onde nossos olhos apressados não chegam, porque a dor mais profunda requer calma para ser encontrada".
Não me arrependi nadinha. São 148 páginas deliciosamente bem escritas, envolventes e que me levaram a ficar boas horas pensando na vida, nos afetos retidos e naqueles perdidos. Quantas pessoas já passaram por nossa vida? Com quantas ainda estamos verdadeiramente? Quantas nunca mais ouvimos falar, mas volta e meia nos invade a lembrança? Quantas nos fizeram tanto bem e outras tanto mal? Elas sabem disso? Por que nunca falamos? Respeito, juízo, necessidade, vergonha, falta de coragem?
Daqui em diante, nesta crônica, todas as aspas são do livro. Podem chamar de falta de imaginação para escrever essa semana. Talvez tenha sido mesmo. Ficamos um bocado de tempo nos olhando: o teclado e eu. Quem venceu? Os trechos a seguir venceram a corrida dos espermatozóides até o óvulo e aqui está a criança. Pena que não seja minha, mesmo assim é um grande amor que está sendo compartilhado.
"Um novo amor que chega é encantador, mas não é único. Ele é recém-chegado. Depois que ele chegou, a nossa vida, nosso mundo, diminuiu ou dilatou-se?... Somos todos desejantes. O que gostamos no outro é o que sobra do encontro que realizamos com ele. É a terceira pessoa, é o que nasce do encontro... Não, a vida não é um conto de fadas, mas nem por isso estamos privados da felicidade que eles nos sugerem. Precisamos entender que não existe ser humano ideal. O que existe é o ser humano certo. O ser humano certo tem defeitos, qualidades, e na soma de tudo é um resultado em que você resolve acreditar".
Lindo de ler, lindo de viver.
Andréa Muller
jornalista
domingo, 1 de julho de 2012
DEVERES
Todos os assalariados descontam mensalmente impostos de seus salários e pagam suas contas em dia, às vezes nem tanto, mas os juros correm atrás sem piedade e pagamos, não tem moleza. Para ir daqui a Porto Alegre são apenas cinco pedágios na ida e mais quatro para voltar, uma bagatela. Ir ao centro e deixar um realzinho no parquímetro já é rotina, não achamos mais estranho. Levar uma multa no Cassino na manhã após o carnaval enquanto os lixeiros faziam o seu trabalho e o resto do povo curava a ressaca é merecimento. Só eu, a louca, é que resolveu sair de casa às 9 horas da manhã para comprar produtos para a piscina. Eu estava devidamente de cinto de segurança, mas minha filha de 11 anos, sentada no banco de trás não estava e fui multada. Repito: merecimento. Bocabertice.
Blitz é rotina. Semana passada teve uma que coincidentemente só parou os carros com a placa cujo IPVA vencia naquele mês. Soube que foram recolhidos cerca de 60 veículos. Não eram Fuscas azuis nem Brasílias amarelas. Eram carrões e estavam com seus impostos atrasados há alguns dias, nenhum sem pagar há mais de um ano. Todos foram educadamente orientados a esvaziar seus veículos, pois os mesmos seriam guinchados. Dinah desesperada, com o porta malas lotado de pertences pessoais perguntou: mas seu guarda, e as minhas coisas? Educadamente ouviu que colocasse suas coisas na calçada. Repito: a ordem foi pronunciada com a maior educação e o destino é esse mesmo: calçada.
Mas e a vergonha e o constrangimento? O que fazemos com eles? Engolimos? Temos outra opção? Era um tal de liga pra marido, pra melhor amiga, para o vizinho pedindo uma carona, um colo, um apoio. Não merecíamos outro tipo de tratamento? Algo como a multa, fazer o quê, e um prazo de vinte e quatro horas para regularizar a situação sob pena de, se não o fizermos, ai sim termos o carro enviado ao depósito.
Não nos cortam a energia elétrica nem a água se não pagarmos no dia exato. Temos uma segunda chance, recebemos um aviso e se persistimos inadimplentes perdemos o direito ao serviço pagando, diga-se de passagem, os juros e a taxa de religação. De graça nada. Assim vamos nos acostumando a viver em um País que cobra taxas para tudo, mas não retorna em tamanha proporção suas obrigações. Nossos hospitais estão longe de ser o que merecemos, o saneamento básico ainda é utopia em muitos estados brasileiros e deveres não nos faltam, em compensação o resto é notícia de bons exemplos que assistiremos no próximo Jornal Nacional.
Andréa Muller
Jornalista