Escrever é como criar um mosaico. Pode ser pequeno, grande ou enorme, sob encomenda ou de improviso, é uma reunião de palavras que ganham vida própria. Devem fazer sentido para quem escreve e quando fazem para quem lê é o melhor dos mundos. Escrever é compartilhar em um estalar de dedos. As palavras alcançam fronteiras, viram independentes. São seus filhos mundo afora, sendo lidos por outros olhos, ditos por outras bocas, amados, odiados, admirados, desejados.
Mosaicos e palavras. Outro dia um colega perguntou a respeito de uma das minhas crônicas. É inspiração ou é constatação? Era a segunda opção.
Ofício, profissão, ocupação, paixão. Você faz o que gosta? Está onde está porque chegou ou batalhou cada centímetro. Quem te leva é a vida ou é o vento, estás de mãos dadas com alguém ou sozinha? Tens quantas mãos para segurar ainda? São mãos queridas, te fazem bem, são boas de pegar, novinhas ou vividas? Segure-as com delicadeza e ternura para que elas possam sempre estar por perto.
Ditado antigo diz: "Se fizeres o que gosta não vais trabalhar um dia sequer". Escrever é isso. Ler também. Mas não é nenhuma barbada. Tem dias que não engrena, que nada parece fazer sentido, o mosaico não sai do chão. Do nada me vem à cabeça uma canção antiga da Elis Regina – Casa no Campo. "Eu quero plantar e colher com a mão a pimenta e o sal". Virgem Maria, meu mosaico hoje está sem pé nem cabeça. Será?
Fui surpreendida com o livro de Marcel Boher chamado "Nadismo – uma revolução sem fazer nada". Além do livro há um site e um clube que existe desde 2006. De lá pra cá, mais de 60 encontros já foram realizados em praças de inúmeras cidades como Porto Alegre, Gramado, Rio de Janeiro, Florianópolis e até fora do país. Para que todos encontrem o local do nadismo o autor coloca um cubo branco bem grande no local. A sessão dura cerca de 45 minutos.
O livro é franco e dolorido. Sem dó nem piedade o autor nos coloca diante de sessões involuntárias de psicoterapia. "Esse tempo que parece tanto nos faltar é nada menos do que nossa vida passando". É ou não é verdadeiramente verdade essa afirmação? "Existem vários aspectos da realidade que tem um ponto limite do qual não é possível avançar ou no qual qualquer acréscimo já não representa diferença alguma". Essas duas frases valeram o livro inteiro e devem me fazer pensar por pelo menos mais uma década porque fizeram imenso sentido para mim.
Andréa Muller
Jornalista