domingo, 1 de julho de 2012

DEVERES

Todos os assalariados descontam mensalmente impostos de seus salários e pagam suas contas em dia, às vezes nem tanto, mas os juros correm atrás sem piedade e pagamos, não tem moleza. Para ir daqui a Porto Alegre são apenas cinco pedágios na ida e mais quatro para voltar, uma bagatela. Ir ao centro e deixar um realzinho no parquímetro já é rotina, não achamos mais estranho. Levar uma multa no Cassino na manhã após o carnaval enquanto os lixeiros faziam o seu trabalho e o resto do povo curava a ressaca é merecimento. Só eu, a louca, é que resolveu sair de casa às 9 horas da manhã para comprar produtos para a piscina. Eu estava devidamente de cinto de segurança, mas minha filha de 11 anos, sentada no banco de trás não estava e fui multada. Repito: merecimento. Bocabertice.

Blitz é rotina. Semana passada teve uma que coincidentemente só parou os carros com a placa cujo IPVA vencia naquele mês. Soube que foram recolhidos cerca de 60 veículos. Não eram Fuscas azuis nem Brasílias amarelas. Eram carrões e estavam com seus impostos atrasados há alguns dias, nenhum sem pagar há mais de um ano. Todos foram educadamente orientados a esvaziar seus veículos, pois os mesmos seriam guinchados. Dinah desesperada, com o porta malas lotado de pertences pessoais perguntou: mas seu guarda, e as minhas coisas? Educadamente ouviu que colocasse suas coisas na calçada. Repito: a ordem foi pronunciada com a maior educação e o destino é esse mesmo: calçada.

Mas e a vergonha e o constrangimento? O que fazemos com eles? Engolimos? Temos outra opção? Era um tal de liga pra marido, pra melhor amiga, para o vizinho pedindo uma carona, um colo, um apoio. Não merecíamos outro tipo de tratamento? Algo como a multa, fazer o quê, e um prazo de vinte e quatro horas para regularizar a situação sob pena de, se não o fizermos, ai sim termos o carro enviado ao depósito.

Não nos cortam a energia elétrica nem a água se não pagarmos no dia exato. Temos uma segunda chance, recebemos um aviso e se persistimos inadimplentes perdemos o direito ao serviço pagando, diga-se de passagem, os juros e a taxa de religação. De graça nada. Assim vamos nos acostumando a viver em um País que cobra taxas para tudo, mas não retorna em tamanha proporção suas obrigações. Nossos hospitais estão longe de ser o que merecemos, o saneamento básico ainda é utopia em muitos estados brasileiros e deveres não nos faltam, em compensação o resto é notícia de bons exemplos que assistiremos no próximo Jornal Nacional.

Andréa Muller

Jornalista

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