sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sou eu que decido

Janete ganhou no dia dos namorados um perfume Chanel nº 5. Foi à loucura, amou o perfume e ainda mais o dono de tamanha gentileza. Chanel nº 5 não é apenas um perfume, é um ícone da perfumaria criado em 1921 por Ernest Beaux, a pedido da estilista Coco Chanel. Só que o moço ao entregar o presente fez uma recomendação: use poucas gotinhas. Ora, ora, isso lá é coisa que se diga para quem acabou de ganhar um frasco de Chanel nº 5. Janete, no entanto, foi rápida na resposta: isso sou eu que decido. Pronto, fica decretado, a partir de então, que existem coisas, e diga-se de passagens, muitas coisas que cabe a nós, e somente a nós a decisão.

Maria ganhou uma roupa nova da mãe e a recomendação de que deveria usar para sair. Ora, ora, isso lá é coisa que se diga para alguém como Maria. Isso sou eu que decido, disse apressadamente e com razão. Se for meu, eu escolho se vou usar para sair, para tomar café da manhã, dormir ou ir à feira com a roupa nova. Manual de instruções a gente aceita e lê de eletrodomésticos, o resto deixe com a gente.

Isso sou eu que decido é agora meu mantra, recito ao acordar, ao tomar banho, ao deitar, ao negociar, ao primeiro sinal de que alguém está querendo segurar o manche do meu vôo. Levei anos para aprender a voar sozinha, tive aulas e mais aulas, agora, neste exato momento acho que aprendi como fazer isso e quero poder aproveitar esse bom momento da maturidade, me confidenciou Salete.

Hoje eu quero sair para dançar, tomar umas taças de vinho, chorar um pouco antes de dormir, imaginar o que estarei fazendo daqui a dez anos, encontrar com um amigo que eu não vejo a mais de 30 anos e recordar o passado. O que é isso vó? Enlouqueceu de vez? Não minha filha, isso sou eu que decido.

As mulheres nos ensinam muitas coisas, os homens são um verdadeiro doutorado e as crianças um colégio interno. Os pais só reconhecemos de fato e de direito quando vivemos este papel, antes disso nem tente convencer ninguém sobre o que é a vida após a maternidade. Não perca seu tempo, é impossível, inimaginável, papo sem cabeça onde quem escuta coloca na lixeira mais próxima ao se afastar de você. Isso sem falar no sorriso amarelo durante a conversa.

Chega um tempo, que é diferente para mim, para Janete, para Maria, para minha avó. Esse tempo é o reflexo do caminho, curto ou comprido no qual levamos ou fomos levadas pela vida, pelo companheiro, pelos filhos, pela vida doméstica, pela dedicação ao trabalho, pela negação da felicidade, pela felicidade em excesso, pelo bem e pelo mal. É neste instante que podemos dizer com todas as letras: isso sou eu que decido.


 

Andréa Muller

Jornalista

Junho/2012


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário